quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Poema Para Uma Mulher










Porque chegastes tarde,
quando tudo já havia se acabado?
Se viesses, por exemplo, às seis
Quem sabe, ainda encontrarias
Meu coração batendo.
Se chegasses às cinco,
talvez surpreenderias o meu olhar
extático, sobre as colinas
esperando o pôr-do-sol
(e nem imaginas como é lindo o pôr-do-sol
nestas tarde frias).
Se viesses às quatro, quem sabe
me encontrarias ainda a escrever
versos sobre a areia branca.
Mas, chegastes tarde, é verdade.
Quando a noite já se deitava
morta sobre as ondas do mar.
Quando os veleiros já não refletiam o sol
e iam desaparecendo lentamente
num ponto qualquer do horizonte.
Porque não viestes na primavera?
Quando o vento salpicava de flores o mar
e este, silencioso, derramava pétalas
sobre o meu poema na areia.
Porque, então, não viestes no outono?
Quando os frutos doces deste poema
ainda caiam maduros sobre o colo
morno da mulher amada.
Quando o ruído leve do vento
apascentava a tarde e beijava a aurora do mar.
Mas não. Preferistes a noite e o inverno,
o inverno e a noite para que pudesses vir.
E chegastes já sombria e fria, misteriosa
e mórbida como estas lentas aves da noite.
E viestes sem que eu percebesse que vinhas.
Chegastes lentamente, sobre as conchas e outeiros,
sobre as marés e os sargaços.
Embriagada pelas gotas do orvalho
Chegastes...
Leve como um pássaro do crepúsculo.
E viestes tarde demais.
(Costa Pinto)

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