Porque chegastes tarde,
quando tudo já havia se acabado?
Se viesses, por exemplo, às seis
Quem sabe, ainda encontrarias
Meu coração batendo.
Se chegasses às cinco,
talvez surpreenderias o meu olhar
extático, sobre as colinas
esperando o pôr-do-sol
(e nem imaginas como é lindo o pôr-do-sol
nestas tarde frias).
Se viesses às quatro, quem sabe
me encontrarias ainda a escrever
versos sobre a areia branca.
Mas, chegastes tarde, é verdade.
Quando a noite já se deitava
morta sobre as ondas do mar.
Quando os veleiros já não refletiam o sol
e iam desaparecendo lentamente
num ponto qualquer do horizonte.
Porque não viestes na primavera?
Quando o vento salpicava de flores o mar
e este, silencioso, derramava pétalas
sobre o meu poema na areia.
Porque, então, não viestes no outono?
Quando os frutos doces deste poema
ainda caiam maduros sobre o colo
morno da mulher amada.
Quando o ruído leve do vento
apascentava a tarde e beijava a aurora do mar.
Mas não. Preferistes a noite e o inverno,
o inverno e a noite para que pudesses vir.
E chegastes já sombria e fria, misteriosa
e mórbida como estas lentas aves da noite.
E viestes sem que eu percebesse que vinhas.
Chegastes lentamente, sobre as conchas e outeiros,
sobre as marés e os sargaços.
Embriagada pelas gotas do orvalho
Chegastes...
Leve como um pássaro do crepúsculo.
E viestes tarde demais.
(Costa Pinto)
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