sexta-feira, 24 de abril de 2015

Reflexo Tardio







Resoluto sigo nessa longa estrada, digerindo o inquieto pensamento.

Este, que embora rude e tão mesquinho,

se julga soberano nas questões sombrias da minha alma.


Mas, caminho sóbrio, pisando vilanias.

A contemplar a infinita distância de mim mesmo.

As longínquas marés de cada lembrança, os duros seixos das desilusões,

a esperança inacabada.

Abandonada e inútil, devaneando entre crenças e soluços .


Caminho junto ao tempo, lado a lado com ele.

Como se não houvesse nada a contar, marcar ou refletir.

Como se pudesse ser pela primeira vez, sem ter vivido o antes.

Como se tentasse sonhar, sem ter dormido nunca.


Caminho amando e entendendo cada passo,

Cada curva da estrada, cada vegetação, cada flor.

Como se fosse a primeira vez.

Mas, caminho em cada história que nunca vivi,

ou vivida não me venha mais à memória.


Caminho breve e atônito, extenuado e absorto.

E vou prendendo cada um desses lamentos doídos, em mim

Como uma bandeira sobre a janela de um edifício.

Aquela, que expressa tresloucada um soturno grito de vitória.


Como alguém que diz, de si para si mesmo,

com olhos marejados de outono,

Diante do espelho:


- Deus meu, ainda estou aqui !



(Costa Pinto)

Nenhum comentário:

Postar um comentário