sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O ancião da fé


       Vila dos prosélitos, um multifacetado lugarejo de diversas religiões, vivia em paz por haver tolerância e principalmente respeito entre seus moradores.
         Um dia, a paz do lugarejo foi afetada pela obsessão de um seguidor da Egocêntrica, uma religião de acirrados. A obsessão consistia em que todos seguissem os egocêntricos, assim eram conhecidos os seus seguidores.
         Esse seguidor chamava-se Egoísta, considerava-se um verdadeiro profeta dos tempos atuais, dizia-se salvo e condenava a todos os que não o tivessem como exemplo. Acreditava falar com os anjos e que isso fazia dele um homem puro. Ameaçava as crianças alheias na intenção de que assim aceitassem sua fé: - Se seu filho ficar à beira da morte, você acreditará em mim.
         Havia uma mulher, Dona Dúvida, humilde, de boa índole, que vivia bem com todos, talvez por ter passado por tudo nessa vida. Ela não seguia nenhuma religião, nem ocupava Deus com pedidos tolos. Porém, diante da ameaça de dispersão de seus vizinhos, arriscou pedir a Deus que fizesse alguma coisa, por exemplo, levar o Sr. Egoísta para o céu; diante disto, estaria tudo resolvido.
         Não querendo Deus o Sr. Egoísta ao seu lado, fato esse desconhecido pelo mesmo, resolve ter uma conversa com ele.
         Aparece Deus ao raiar do sol, como se fosse um humilde ancião, seguidor da Aceitação, e cumprimenta o Sr. Egoísta: - Que a Aceitação nos salve. Ele o tratou com extrema frieza, foi grosseiro, tentou desvencilhar aquele ancião de sua intensa fé. Diante disso, muda Deus, a sua forma por diversas vezes, passando por todos os tipos de membros de todas as religiões, com seus trajes e suas maneiras de cumprimentar, até tornar-se um Egocêntrico e fala ao Sr. Egoísta: - Sou teu Deus.
Surpreso, assustado e ao mesmo tempo maravilhado, o Sr. Egoísta se envaidece e fica cheio de si, por ter sido escolhido para falar com Deus, e pensa consigo mesmo: “Bem que eu dizia a todos, isso prova que eu estava com a verdade.”
         Lendo Deus o seu equivocado pensamento, fala-lhe novamente: - Egoísta, tu tens boas intenções, porém não queiras o meu lugar. Lúcifer, já foi um anjo meu. Lembre-se disso. Por que queres todos seguindo a ti, para chegar até mim? Sabes tu que não podes condená-los e muito menos salvar a si próprio. Não se antecipes a mim.
         O Sr. Egoísta ainda tenta justificar-se:    - Senhor, eu apenas queria ser exemplo para eles.
         Deus o interrompe com rispidez:            - Homem, os teus passos foram de perfídia e solidão, até o dia em que me encontraste em seu próprio coração. Não precisaste de nome para me definir, nem de representantes para me falar e muito menos de exemplo para me seguir.    
         Já desesperado, o Egoísta ajoelha-se e roga: - Senhor, não me abandones, eu não sabia o que fazia.
Deus estende a sua mão direita e aponta o indicador para o Sr. Egoísta, ao mesmo tempo em que fala: - Não temas, és a minha forma e semelhança, e como tal és passível de erro. És condenado, não pelos teus atos, mas pelo que és, um mortal.
Olhando as costas daquele ancião que partia, assim como chegara, trajado como um humilde seguidor da Aceitação, o Sr. Egoísta decide repensar a sua fé.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

BRIGAS CONJUGAIS


Quantos lares são desfeitos
Pelas brigas conjugais?
Quantos e quantos casais,
Não tem os seus ais aceitos?
Qual seria o melhor jeito
De entendermos um ao outro?
Cada um cedendo um pouco,
Talvez faça algum efeito,
Se não for tarde demais.
Desde os primeiros sinais
De que o amor se dissolvia
Nas brigas do dia a dia,
Nas discórdias casuais,
Nos sentimos tão normais
Na tristeza e na alegria,
Que dissemos com ironia:
Tanto faz.