segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Partiu mais um bravo! E os sinos dobram por nós.



O dia amanheceu mais triste hoje. Perdemos mais um bravo guerreiro da literatura nacional: Moacyr Scliar.


Que os sinos toquem por ele, mas muito mais por nós pela nossa perda.


Moacyr Jaime Scliar nasceu em Porto Alegre (RS), no Bom Fim, bairro que até hoje reúne a comunidade judaica, a 23 de março de 1937, filho de José e Sara Scliar. Sua mãe, professora primária, foi quem o alfabetizou. Cursou, a partir de 1943, a Escola de Educação e Cultura, daquela cidade, conhecida como Colégio Iídiche. Transferiu-se, em 1948, para o Colégio Rosário, uma escola católica. Posteriormente cursou medicina na na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, formando em 1962.

Neste mesmo ano Publicou seu primeiro livro, “Histórias de um Médico em Formação”. A partir daí, não parou mais em sua grande produção literária tendo publicado mais de 67 livros abrangendo o romance, a crônica, o conto, a literatura infantil, o ensaio, e sendo detentor de diversos prêmios literários.

Em 31 de julho de 2003 foi eleito, por 35 dos 36 acadêmicos , para a Academia Brasileira de Letras, na cadeira nº 31, ocupada anteriormente por Geraldo França de Lima.

Infelizmente, neste neste domingo (27/02), à 1h., Scliar nos deixou, vitimado por falência múltipla dos órgãos. A ele nosso adeus de saudade e nosso mais sincero agradecimento.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Poema Para Uma Mulher










Porque chegastes tarde,
quando tudo já havia se acabado?
Se viesses, por exemplo, às seis
Quem sabe, ainda encontrarias
Meu coração batendo.
Se chegasses às cinco,
talvez surpreenderias o meu olhar
extático, sobre as colinas
esperando o pôr-do-sol
(e nem imaginas como é lindo o pôr-do-sol
nestas tarde frias).
Se viesses às quatro, quem sabe
me encontrarias ainda a escrever
versos sobre a areia branca.
Mas, chegastes tarde, é verdade.
Quando a noite já se deitava
morta sobre as ondas do mar.
Quando os veleiros já não refletiam o sol
e iam desaparecendo lentamente
num ponto qualquer do horizonte.
Porque não viestes na primavera?
Quando o vento salpicava de flores o mar
e este, silencioso, derramava pétalas
sobre o meu poema na areia.
Porque, então, não viestes no outono?
Quando os frutos doces deste poema
ainda caiam maduros sobre o colo
morno da mulher amada.
Quando o ruído leve do vento
apascentava a tarde e beijava a aurora do mar.
Mas não. Preferistes a noite e o inverno,
o inverno e a noite para que pudesses vir.
E chegastes já sombria e fria, misteriosa
e mórbida como estas lentas aves da noite.
E viestes sem que eu percebesse que vinhas.
Chegastes lentamente, sobre as conchas e outeiros,
sobre as marés e os sargaços.
Embriagada pelas gotas do orvalho
Chegastes...
Leve como um pássaro do crepúsculo.
E viestes tarde demais.
(Costa Pinto)

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Canção Trovadoresca

Senhora, jamais pensei
Em vos dizer do sofrer.
Do muito que amargurei
pensando cá, em morrer.
Por causa de tanto amor,
me fez penar esta dor,
porque não a posso ter.
É certo que não verei
este dia amanhecer.
Pois esta dor, que bem sei
consome todo o meu ser
já vai me causando a morte,
brotando por esse corte
que se abriu do meu sofrer.

E, senhora, já nem sei...
Se inda vos entristecer
tudo o que eu já sonhei,
talvez possa desdizer:
Por causa de tanto amor,
me fez penar esta dor,
porque não a posso ter.

(Costa Pinto)

(Ilustração acima: Symphonia da Cantiga 160, Cantigas de Santa Maria de Afonso X, o Sábio - Códice do Escorial. (1221-1284), obtida no "site" Wikipedia.org)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Suprema Afronta



Escuta, Deus, se ainda me ouves
Escuta o pranto que me rola a face
Sente a dor que me abate a fronte
E essa escuridão que me amedronta


Não tens pena de tantos desenganos?
E nem te enfurece a minha afronta?
Desce dos céus, eu te espero há anos
Escuta Deus! Encerra a minha conta!

(Costa Pinto)


(imagem extraída do site: "webevangelista.blogspot.com" - Herege)

DEBAIXO DO CHÃO DA CASA

Era um moleque esperto.
Estava sempre por perto
quando algo acontecia.
Um dia, de um pão que comia,
cai no chão, um pedaço.
Sua mãe lhe diz: - Tem cuidado,
tu vais dá gosto ao diabo.
Ele olha assustado e meio desconfiado.
Apanha a sobra e come.
Esse moleque tem nome,
é Tito de Malaquias.
Seu pai como de costume,
chega em casa achando graça.
Vai direto para a garrafa
avizinhada do pote.
Põe da cachaça, uma dose.
Derrama a metade no chão.
Quando Tito diz que não,
Malaquias fala : - É pro santo.
Eis que o moleque já tonto,
pensa: Não entendo nada.
Pois o diabo e o santo
moram juntos
debaixo do chão da casa.


João Felinto Neto

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Se me quisesses

Se tu me quisesses bem,
Não me terias largado aquela noite.
Se tu me quisesses bem,
Não me darias o choro.

Se tu me quisesses bem,
Não me terias mentido,
Não me terias traído,
Não me tratarias de tal forma.

Se tu me quisesses bem,
Não me farias ler tais palavras,
Tais histórias, tais vivências, tais
Amores tais...

Se tu me quisesses bem,
Estarias ao meu lado,
Proteger-me-ias do frio,
Do medo, da solidão.

Se tu me quisesses bem,
Eu não escreveria tão mal!



(Bruno Campelo)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

ASTRONAUTA


Sou aquele astronauta
que procura companhia
nessa lua que me guia
na intensa noite fria,
na mais rude solidão.

Um poeta sem razão,
com sua fé abalada,
sua alma desgarrada
que caminha na estrada
à procura de harmonia.

Ledo engano, eu seria,
entre passos pela lua;
atravessando a rua
na qual minha pele nua
desejava se aquecer.

Um astronauta que vê
a eterna poesia;
não nos versos que eu fazia,
mas na incrível harmonia
que acabo de encontrar.

João Felinto Neto