segunda-feira, 9 de agosto de 2010

PEQUENA CANÇÃO PARA A AMADA



É inútil buscar na face da mulher amada a face de Deus
quando ela é a sua própria face.

É impossível soltar-se a êsmo pelo espaço
quando o amor, com sua mão mais firme,
nos segura, acaricia e prende com desvêlo.

É absolutamente desnecessária a procura da vida
quando esta se encontra latente
em cada longo beijo roubado dos lábios dessa mulher.
Em cada pulsação que se defaz e desalenta no peito do amante,
quando o sol morre no horizonte como um grande pássaro abatido.
Quando a esperança de renascer em cada poesia
vai cobrindo de versos todo o corpo da amada
e faz reviver o poeta,
como um mágico, um Deus ou um Atlante.

É profundamente irreal cada procura, cada gesto,
cada contração, cada espasmo diante da amada.
Pois ela é o próprio ser dentro do ser,
o próprio gesto dentro do gesto,
a própria contração que penetra o espasmo
e aflora num orgasmo maior,
em face da angústia de sentir-se amado.
Ela é como respirar sem nenhum alento.
Assim como viver sem ter tido vida,
ou agonizar sem ter morrido nunca.
Assim como uma pulsação enorme
dentro de cada pulsação, dentro de cada veia.
Banhada em dor de sangue e festa
nas gotas derradeiras da canção.

(Costa Pinto)

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